sábado, 16 de fevereiro de 2008

William Turner, National Gallery

Viagem

Aparelhei o barco da ilusão
E reforcei a fé de marinheiro.
Era longe o meu sonho, e traiçoeiro
O mar...
(Só nos é concedida
Esta vida
Que temos;
E é nela que é preciso
Procurar
O velho paraíso
Que perdemos).
Prestes, larguei a vela
E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
Desmedida,
A revolta imensidão
Transforma dia a dia a embarcação
Numa errante e alada sepultura...
Mas corto as ondas sem desanimar.
Em qualquer aventura,
O que importa é partir, não é chegar."




Miguel Torga - 1962

2 comentários:

Delfina Amado disse...

Olá Etelvira!
Parabéns pelo teu blog (A viagem). Gosto!
Quando o caminho que traçamos é duro e o desalento me invade, vem-me à memória este poema de Sebastião da Gama, muito conhecido mas cheio de sentido(s, que para nós, professores, fazem muito "sentido"!
«O Sonho

Pelo Sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo Sonho é que vamos.

Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia-a-dia.

Chegamos? Não chegamos?

- Partimos. Vamos. Somos.»

in "Pelo Sonho é que Vamos", Sebastião da Gama

Ana Maria Coelho disse...

Da viagem
ficam gravados
os rostos e as histórias,
os lugares e as memórias,
os afectos ternurentos
dos que nos dão alento
para continuar a lutar,
contra a maré,
mas com muita fé,
porque dela se faz a força
que nos trouxe até aqui
e nos há-de levar em frente,
porque a vida é um repente
que convém não desperdiçar.

Parabéns, Etelvira

Da amiga e companheira de viagem
Ana Maria Coelho