sábado, 27 de setembro de 2008

"RANKINGS E XANAX

Texto de Daniel Oliveira, no Expresso.

Esta semana evite a companhia de professores. Falar com qualquer um
deles pode deixá-lo em mau estado. Vivem, nos dias que correm, em
depressão colectiva. A sucessão de reformas, contra-reformas e
contra-contra-reformas, a destruição do que se foi fazendo de bom - do
ensino especial ao ensino artístico -, a incompetência desta equipa
ministerial e o linchamento público de uma classe inteira tem os
resultados à vista: as aulas recomeçam com professores tão motivados
como um vegetariano perante um bife na pedra.

Sabem que os espera apenas uma novidade: a avaliação do seu
desempenho. E é, ao que parece, tudo o que interessa a toda a gente: a
avaliação dos professores, a avaliação dos alunos, a avaliação das
> escolas, a avaliação do sistema educativo português.
>
> Tenho uma coisa um pouco fora do comum para dizer sobre o assunto: a
> escola serve para ensinar e aprender. Se isto falha, os exames, as
> avaliações e os "rankings" são irrelevantes. Talvez não fosse má
> ideia, enquanto se avaliam os professores, dar-lhes tempo para eles
> fazerem aquilo para que lhes pagamos em vez de os soterrar em
> burocracia. Enquanto se exigem mais e mais exames, garantir que os
> miúdos aprendem com algum gosto qualquer coisa entre cada um deles.
>
> Enquanto se fazem "rankings", conseguir que a escola seja um lugar de
> onde não se quer fugir. E enquanto se culpam os professores pelo
> atraso cultural do país, perder um segundo a ouvir o que eles têm para
> dizer. Agora que já os deixámos agarrados ao Xanax, acham que é
> possível gastar algumas energias a dar-lhes razões para gostarem do
> que fazem? Se não for por melhor razão, só para desanuviar o ambiente
> nos edifícios onde os nossos filhos passam uma boa parte do dia.
>

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