quarta-feira, 7 de maio de 2008

acerca da Câmara do Porto (excerto)

Prefiro perder-me, então, na reflexão acerca da minha cidade. Destaco três temas autónomos, que devem ser profundamente pensados: a questão social, cultural e a reabilitação urbana. Entre outros fundamentais para a cidade, parece-me que estas são as questões que merecem mais atenção pela sua preponderância na definição do perfil do Porto num futuro a longo prazo.

Este executivo pode ser questionado, criticado e aplaudido pela mesma política. Convém destacar que muito se tem vindo a fazer desde a primeira eleição de Rui Rio até hoje. Vou tentar cumprir a primeira parte – questionar – para chegar a algum consenso dentro da natural confusão que se gerou.

Começo por pensar a política social. Ora, desde o SAAL até o final do século XX o Porto assumiu um longo processo de substituir as habitações desqualificadas da cidade (desde as ilhas às encostas sobre o Douro na parte Oriental) por uma oferta relativamente qualificada, ou que, pelo menos, se considerava como tal. Esse processo é, hoje em dia, legitimamente questionado. Argumenta-se que os grandes aglomerados periféricos (dentro da fronteira administrativa), como o Aleixo, Aldoar, Pasteleira, Cerco, Lagarteira ou São João de Deus tenham sido apenas soluções rápidas de modo a controlar a aparência na miséria das péssimas condições de salubridade em que se vivia. Outros falam desta como a solução possível à época. No início do século XXI discutiu-se muito o Bairro que se construi desde os anos setenta e, provavelmente, ficou por discutir o que fazer no século XXI a esses mesmos bairros que duravam e, fundamentalmente, às pessoas que neles habitavam. Havia a hipótese de se pôr em marcha uma nova condução da política de habitação social da cidade, que para além de corrigir a anterior iniciaria um novo ciclo. A câmara decidiu, tal como no ‘pós-SAAL’, a solução mais evidente, mais fácil e, claro, a menos acertada. Renovar os bairros sociais com fachadas pintadas e novos caixilhos de alumínio não podia ser a solução correcta, porque os problemas realmente sociais gerados pela mistura despreocupada e pouco reflectida de pessoas completamente diferentes que gerou anos de delinquência em ambientes propícios - continuam a ser os mesmos, mas agora atrás de fachadas Robialac e vidros da vidraceira Robertos. Os projectos de arquitectura do João Álvaro Rocha na Maia e em Matosinhos são bons exemplos de novas soluções, com pequenos complexos de vinte a trinta fogos onde se investiu realmente na questão social.

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